7 de outubro de 2024

“Corrupção escancarada não foi suficiente para punir Emanuel”

Michelly Alencar aponta “nuances de corrupção” na gestão de Cuiabá e fala sobre futuro na política

Crítica ferrenha da gestão Emanuel Pinheiro (MDB), a vereadora por Cuiabá Michelly Alencar (DEM) apontou indignação ao relembrar que na última semana faz quatro anos que o “Escândalo no Paletó” ganhou destaque nacional.

Emanuel ganhou as manchetes do Jornal Nacional, da Rede Globo, colocando maços de dinheiro no paletó. O vídeo fazia parte da delação do ex-governador Silval Barbosa. Pelo vídeo, o prefeito responde pelos crime de corrupção ativa e associação criminosa, mas nenhuma sentença foi dada até hoje.

“Ele foi reeleito e nós temos a sensação de que a corrupção exposta, escancarada, não foi suficiente para punir o atual prefeito. […] Mas ainda tenho a esperança de que não irá ficar por isso mesmo. A população também está indignada de ano após ano o crime, mesmo escancarado, estar sem punição”, afirmou ela ao MidiaNews.

Ainda na entrevista, Michelly comentou sobre o trabalhos que acompanha de perto dentro da CPI dos Medicamentos Vencidos e disse acreditar que o prefeito tem conhecimento dos casos de corrupção na Saúde.

Ela ainda defendeu a verba indenizatória dos vereadores, falou da atuação parlamentar e sobre o futuro político.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Nesta semana fez 4 anos que saiu o vídeo do prefeito Emanuel Pinheiro colocando maços de dinheiro no paletó. Até o momento, não há condenação. O ex-deputado Alexandre César confirmou que aquele dinheiro era de propina. Como vê esse caso e o fato da lentidão processual?

Michelly Alencar – Falar nesse crime do paletó e ver a cena se repercutindo nacionalmente nos faz ter uma sensação de impunidade. Afinal, ele foi reeleito. Temos a sensação de que a corrupção exposta, escancarada, não foi suficiente para punir o atual prefeito. Mesmo com o Alexandre César admitindo, réu confesso, que fazia parte do grupo e recebeu o dinheiro. Mas ainda tenho esperança de que não irá ficar por isso mesmo. A população também está indignada de ano após ano o crime, mesmo escancarado, estar sem punição.

MidiaNews – O prefeito Emanuel Pinheiro alegou, por vezes, que aquele dinheiro era referente ao pagamento de pesquisa eleitoral feita pelo irmão Marco Polo, o Popó. A justificativa convence?

Michelly Alencar – Jamais. Não a mim e nem ao cidadão que tem um pouquinho de critério. Explicações que no início do processo não convenceram, na campanha não convenceu e até hoje não convencem. São infundadas. É uma conversa política, que tenta mascarar um assunto explícito.

Seria mais digno fazer como o Alexandre César. Mas foi feita uma explicação como se quisesse passar um pano em cima da cena, o que é absurdo. E nos indigna muito que Cuiabá e Mato Grosso elegeram novamente alguém que praticou algo contrário a tudo aquilo que esperamos de um representante político.

Essa cena do dinheiro no paletó é a mais explicita corrupção. Não tem explicação. Contra fatos, não há argumentos. E como ele queria ser reeleito, achou um “brecha” totalmente infundada para a realidade do vídeo.

MidiaNews – Acredita que ele pode ser preso por conta desse caso?

Michelly Alencar – Isso cabe à Justiça. Quando falamos que esse vídeo traz sensação de impunidade, estamos dizemos que esperamos que a justiça seja feita. O que a Justiça vai fazer eu não tenho como dizer, mas é o que espero.

Essa cena do dinheiro no paletó é a mais explicita corrupção. Não tem explicação. Contra fatos, não há argumentos

MidiaNews – O prefeito se orgulha da entrega de diversas praças, viadutos, mas sua gestão tem diversos casos de corrupção, secretários afastados, nota baixa na Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Acha que será um período para se esquecer na Prefeitura?

Michelly Alencar – Não é um período que tem que ser apagado, mas um período que tem que ficar marcado na memória da população para saber escolher seus representantes políticos. Afinal, lá atrás escolhemos um prefeito que foi flagrado colocando dinheiro no paletó e hoje temos a continuidade de uma gestão que só mostra o perfil dela.

Nós continuamos tendo operações nas secretarias, tendo secretários afastados, repetindo cenas que não gostaríamos de ver. Nós temos uma pandemia acontecendo e o que vemos de enfrentamento? Vemos desvio de dinheiro, superfaturamento na compra de medicamentos, Operação Curare, que fala do desrespeito com a Saúde. Eu gostaria que a população não esquecesse e que ficasse marcado para, inclusive, ser o crivo nas eleições.

MidiaNews – Como tem visto essas constantes operações, em especial na área da Saúde? Acredita que prefeito pode ser responsabilizado ou ainda é cedo para se falar na participação dele nos supostos esquemas?

Michelly Alencar – Todo gestor responde pela sua gestão. Se ele tem uma equipe que faz coisas erradas, essa equipe precisa arcar com as consequências e ele também. A gestão Emanuel Pinheiro, principalmente na Saúde, é fragilizada, mostra graves indício de corrupção. As operações que foram realizadas mostram que existe um esquema dentro da Saúde. E esse esquema que não é de hoje, é continuado – do mandato passado para esse. E isso mostra que tem aval de um gestor. Claro, que a gente espera que a Justiça faça o papel dela e eu não estou no lugar de um juiz. Mas isso mostra uma gestão cheia de nuances de corrupção, e claro, já foi provado. Por que senão fosse provado, não teríamos secretários afastados, operações sendo realizadas pela Polícia Federal. 

A CPI dos Medicamentos Vencidos, por exemplo, está acontecendo. E nela vemos, por meio de vários depoimentos, como fica claro que existe esse esquema dentro da Saúde. Eu cheguei até a dizer que a gestão é uma fábrica de escândalos. Nós, aqui, tentamos mostrar qual a realidade da gestão para que isso tenha um fim. Essa é nossa esperança. Que os culpados sejam punidos, e nós possamos ter uma mudança de comportamento.

Lislaine dos Anjos/MidiaNews

Vereadora: “Gestão é uma fábrica de escândalos”

MidiaNews – A senhora não é membro da CPI dos Medicamentos Vencidos, mas é muito ativa dentro das oitivas. Até onde viu e ouviu, acredita que Emanuel Pinheiro possa ter uma participação direta no esquema do Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos de Cuiabá (CDMIC)?

Michelly Alencar – A participação direta é feita pelos subordinados, mas tem que ter aval do responsável da equipe. E já foi dito, no depoimento da ex-secretária de Saúde, Elizeth de Araújo, que ele [Emanuel Pinheiro] tinha as indicações política neste grupo. Foi ele quem pediu para ela que os técnicos que haviam sido escolhidos fossem trocados. E ele disse que iria se responsabilizar pela equipe que iria atuar na Saúde.

Inclusive, já fiz um convite a ele para comparecer a CPI. Disse que esperávamos que viesse prestar os esclarecimentos, porque temos muitas perguntas. Ele foi citado algumas vezes pelos depoentes nas oitivas e queremos as respostas dele. Ele não deu nenhuma dessas respostas até agora.

Então, tem um direcionamento que já foi claramente exposto. Um direcionamento para contratação da Norge Pharma, que aponta para o caso de toneladas de medicamentos vencidos. Queremos essas respostas. Porque houve responsáveis que tiveram o aval de alguém. E a gente quer que ele faça suas explicações.

MidiaNews – A senhora foi a Brasília nessa semana para pedir a convocação de Emanuel à CPI da Covid, no Senado. 

Michelly Alencar – A gente tem um fato absurdo que a polícia já trouxe a tona. Teve direcionamento para contratação da Norge Pharma, teve superfaturamento na compra de ivermectina. Tudo que diz respeito ao combate à pandemia teve, sim, indícios de corrupção e precisa de explicação.

Em  Brasília, entregamos mais 600 páginas de documentos a senador membro da CPI da Covid, Luis Carlos Heinze, sobre o mau uso do dinheiro público na saúde de Cuiabá. 

É um escândalo o que está acontecendo em várias cidades do Brasil. Dinheiro que deveria ser investido na saúde sendo escoado pelo ralo da corrupção. E essa é realidade de Cuiabá. São sete secretários afastados. 

Acredito que a CPI dos Medicamentos Vencidos vai resultar, sim, em algo positivo para a população que espera justiça nesse caso

MidiaNews – Sobre os trabalhos da CPI dos Medicamentos Vencidos: hoje, a presidência e a relatoria estão com vereadores da base do prefeito Emanuel Pinheiro, que são os vereadores Lilo Pinheiro e Marcus Brito, respectivamente. Acredita, pelo que tem visto, em um trabalho isento da comissão?

Michelly Alencar – Temos o vereador Marcos Paccola, que é independente e se posiciona de forma pontual diante da corrupção. Ele é responsável por fazer a convocação dos depoentes e tem levantado muitas documentações. A minha esperança é que, mesmo ele não sendo presidente ou relator, as documentações que estão sendo anexadas ao processos, todas as oitivas, vá resultar em um afastamento dos responsáveis e em punição aos responsáveis.

Acredito que a CPI dos Medicamentos Vencidos vai resultar, sim, em algo positivo para a população que espera justiça nesse caso. No início todos ficavam com medo da CPI terminar em pizza. Mas, acompanhando todas as oitivas, teremos um resultado positivo, sim.

MidiaNews – Como cidadã, o que sente quando percebe que o dinheiro que deveria estar sendo usado para combater a Covid pode ter sido drenado em contratações ilegais por parte da Prefeitura?

Michelly Alencar – È uma indignação que toma conta da gente. É um absurdo. Eu, como cidadã, já tinha essa repulsa de imaginar que o representante das minhas crianças, da minha casa, tem indícios de corrupção. A pessoa que é corrupta só se importa consigo mesma. Ela não se importa com a criança, idoso, gestante ou com qualquer pessoa. Se importará quanto pode ganhar em cima disso. Como cidadã, me sinto extremamente indignada. 

A mulher que hoje procura a Saúde Pública para fazer um papanicolau não encontra. Esse exame é anual e é básico. E isso é o reflexo da gestão. Eu, como vereadora e cidadã, me sinto extremamente indignada. E não é só na Saúde, é na Educação também, porque vimos uma Operação que mostrou corrupção na Educação Municipal.

São várias nuances de uma gestão que, de fato, não respeita o direito do cidadão ao acesso básico de saúde, educação e social.

Eu vejo muitos questionamentos com relação a V.I. dos vereadores, mas não vejo questionamento quanto a V.I. dos deputados, do Judiciário, dos senadores

MidiaNews – Fala-se muito em independência do Legislativo em relação ao Executivo, mas na prática poucas vezes existiu em Cuiabá. Hoje, qual é a sua análise? A Câmara é um puxadinho do Alencastro?

Michelly Alencar – Sentimos muito nas votações que existe uma influência. Mas quando se trata da Câmara e de outros vereadores sempre prezo a defender o que eu faço, qual é a minha atitude e posicionamento. Eu nunca vou deixar de propor um projeto porque a base não vai apoiar ou porque o Executivo não tem interesse. 

Sempre que me posiciono no embate, não penso se a maioria vai ficar contra mim, ou que a maioria tem algum conchavo com o Executivo. Eu sempre penso: eu vou fazer o meu trabalho.

Então, respondendo a sua pergunta: esse é um questionamento que a população precisa responder, não eu. Eu sei e posso responder por mim, que não tenho essa pecha nas minhas costas, porque sou uma vereadora independente e faço meu trabalho com muita responsabilidade.

MidiaNews – E sobre a pecha da Câmara ser a “Casa dos Horrores”? Acredita que ela possa se desfazer um dia?

Michelly Alencar – O meu trabalho diário está contribuindo para que ela seja desfeita. Tenho trabalhado arduamente para que quando a população olhe para Casa entenda que tem uma vereadora que é diferente. Mas não porque sou melhor ou pior, mas porque tenho um trabalho prestado com responsabilidade, que não se corrompe e faço um trabalho digno que represente quem precisa de mudança.

MidiaNews – O Tribunal de Justiça homologou um acordo entre o Ministério Público e a Câmara que permite o pagamento de R$ 18 mil de verba indenizatória aos vereadores até dezembro deste ano. A partir de janeiro de 2022, o valor da V.I. deverá se limitar a 75% do valor subsídio dos parlamentares. Concorda com esse valor?

Michelly Alencar – Esse é valor é importante para o trabalho legislativo. Eu sou uma vereadora extremamente transparente para tudo aquilo que acredito. Eu, não sei os outros, mas eu uso esse dinheiro para meu mandato como é o fim dele. A V.I. não é salário, é uma verba indenizatória em que você é reembolsado por todos os custos. Então, se o vereador trabalha muito, como é meu caso… É um direito que é dado a todos os outros Poderes.

Eu vejo muitos questionamentos com relação a V.I. dos vereadores, mas não vejo questionamento quanto a V.I. dos deputados, do Judiciário, dos senadores. Talvez porque por muito tempo a população não se sentia tão representada com o trabalho que era feito. Mas, no meu caso, todos os meus relatórios estão sendo prestados com responsabilidade. Existe a verba indenizatória para os Poderes, somos um desses Poderes, temos esse direito, e cabe a nós a responsabilidade de usá-los como deve ser feito, e que seja de benefício para população.

michelly

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Michelly sobre futuro político: “A minha prioridade é concluir o meu mandato de vereadora”

MidiaNews – A senhora já está há sete meses como vereadora. Qual avaliação faz sobre esse período? O dia a dia no Legislativo é como esperava ou encontrou algo de diferente?

Michelly Alencar – Eu encontrei tudo diferente. Tudo muito diferente do que eu vivia. Eu venho do jornalismo. Venho de 12 anos de uma carreira consolidada. Uma carreira em que já havia construído a minha credibilidade, a minha história. Eu fazia o meu trabalho com tranquilidade.

Aqui é uma construção. E estou em uma construção política. As pessoas olham para mim assim como elas olhavam na minha profissão, como jornalista, acreditando que sempre estou dando o meu melhor. Mas para eu provar que o meu melhor está sendo feito é construção diária. 

E eu sou uma vereadora que me exponho muito nas redes sociais, porque encontrei nas redes essa forma de prestar contas de toda a minha movimentação de mandato. Estou construindo esse novo perfil diferente da Michelly da TV. Eles estão vendo a construção de uma mulher representante política, próxima às bandeiras a que se propôs.

MidiaNews – Seu nome tem sido ventilado para deputada estadual nas eleições de 2022. Tem pretensão?

Michelly Alencar – É o meu primeiro mandato e quando iniciamos uma vida política tudo é novidade. Se vou realmente depois do meu mandato querer uma outra legislatura, se vai ser numa legislatura majoritária, se vai ser deputada, prefeita, governadora ou deputada federal, não sabemos. A minha prioridade é concluir o meu mandato de vereadora. No meu coração, na minha visão e no meu objetivo neste momento não está a candidatura de deputada federal ou estão. Está em concluir um mandato bem feito, que honre o que me propus para aí ter essa consolidação e tentar no futuro. Então, se a chapa do DEM está sendo formada, nomes estão sendo cogitados, digo que é muito cedo para dizer sim ou não. Neste momento, não está dentro das minhas prioridades ou na minha visão.

Defendo [o governador Mauro Mendes] como cidadã mato-grossense pela gestão que ele realiza no Governo

MidiaNews – É favorável a reeleição do governador Mauro Mendes?

Michelly Alencar – Faço parte do grupo do governador, isso é claro para todos os cuiabanos e mato-grossenses. Hoje, componho a chapa de apoio dele, sou filiada ao DEM e obviamente defendo. Não só porque faço parte do grupo, não o defendo como partidária do DEM, apenas. O defendo como cidadã mato-grossense pela gestão que ele realiza no Governo. 

MidiaNews – Acredita que ele vai disputar a reeleição? Até o momento, ele diz que não decidiu e que só falará sobre o assunto em 2022.

Michelly Alencar – É porque não é hora. Na verdade, o entendo. Não é hora de ficar falando. Existe algo que atinge muito o coração dos eleitores e que na verdade já é uma prática dos representantes políticos: começar um mandato e no meio já pensar em reeleição. Parece que todos os passos desse representante político são para se eleger ou não.

O governador tem uma postura de priorizar o mandato dele. Então, na hora certa, vai pensar na reeleição ou não. Do Mauro, sabemos, já tem o histórico da Prefeitura, quando fez um mandato excelente e decidiu não sair. Neste caso, acho que todo indício é que ele não vai querer paralisar uma gestão que está sendo tão boa para Mato Grosso. Uma gestão que está apresentando tantos resultados. Particularmente, espero que sim. Mas, essa resposta, no tempo certo, só poderá vir da boca dele. Mas nós torcemos que sim, para termos continuidade nesse Governo. 

fonte:midianews

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