30 de janeiro de 2025

Mercado financeiro prevê instabilidade no Brasil até 2026, dizem gestores

O mercado financeiro brasileiro enfrenta incertezas que devem persistir até, pelo menos, as eleições presidenciais de 2026. Essa é a avaliação de gestores e ex-diretores do Banco Central, que apontam a falta de credibilidade fiscal e o contexto político como fatores que afastam investimentos estrangeiros e dificultam a recuperação econômica.

Para especialistas, o aumento das despesas públicas é um dos principais entraves à estabilização da economia. Luis Stuhlberger, fundador do fundo Verde, afirmou que a trajetória de gastos começou no último ano do governo Bolsonaro e foi mantida pelo governo Lula, contribuindo para o desequilíbrio fiscal. “O Brasil quebra antes se o juro real permanecer em 8% ao ano por 10 anos. Algo terá que mudar: ou a mentalidade do governo ou o governo em si”, alertou.

A política fiscal atual, mesmo com a introdução do arcabouço fiscal, não conseguiu estabilizar a dívida pública. Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do Banco Central, destacou que a falta de confiança nesse modelo tem impactos negativos: “Se você acredita no arcabouço, a economia entra num ciclo virtuoso; se não acredita, entramos em um ciclo vicioso, e é isso que estamos vivendo”.

A pressão inflacionária, que mantém o IPCA acima da meta de 3%, forçou o Banco Central a elevar as taxas de juros, com projeções de que a Selic possa alcançar até 16% ao ano. Os títulos do Tesouro Direto já refletem esse cenário, com taxas prefixadas acima de 15% ao ano e rendimentos de até 8% nos papéis atrelados ao IPCA.

Bruno Serra, ex-diretor do Banco Central e gestor do fundo Itaú Janeiro, observou que o mercado financeiro permanece à espera de sinais concretos de mudanças, mas acredita que o foco só estará em ajustes após as eleições de 2026.

O atual momento é frequentemente comparado à situação de 2014, que precedeu a crise econômica de 2015-2016, caracterizada por alta inflação e retração do PIB. Andre Bannwart, gestor do UBS BB, alertou que, sem ajuste fiscal, o Brasil pode enfrentar novas desvalorizações cambiais e um aumento acelerado da dívida pública.

“A desaceleração da economia, sem uma política fiscal robusta, leva a mais gastos do governo, o que alimenta a inflação e cria um ciclo difícil de romper”, disse Bannwart. O dólar, que já se valorizou ante o real nos últimos meses, pode alcançar entre R$ 6,20 e R$ 6,40 até o final deste ano, segundo projeções do UBS BB.

Mesmo com a economia apresentando bons números no início do governo Lula, como crescimento próximo de 3% e inflação controlada no final de 2023, a popularidade do presidente não acompanhou esse desempenho. Carlos Viana de Carvalho, estrategista-chefe da Kapitalo Investimentos, acredita que a deterioração do cenário econômico pode impactar ainda mais a aprovação de Lula.

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