7 de outubro de 2024

Internet ruim frustra turista e prejudica imagem de Porto Jofre

A região recebe pessoas do Mundo inteiro, mas ainda vive um “apagão” em telefonia

Mandar mensagens de texto, áudios e gifs pelo Whatsapp são hábitos considerados comuns na sociedade “conectada” em que o mundo vive. Essa, no entanto, não é a realidade dos moradores e turistas que visitam um paraíso esquecido no tempo – Porto Jofre, no Pantanal.

A região está localizada no final da Estrada Transpantaneira, em Poconé, na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O local é considerado referência no turismo de observação, em especial das onças pintadas.

Segundo matéria publicada no Globo Rural, todos os anos a região movimenta aproximadamente US$ 7 milhões com a visitação da fauna e flora por parte de turistas.

Para este ano o prognóstico também é favorável, com as pousadas lotadas e reservas a perder de vista.

Toda a sua exuberância natural de Porto Jofre atrai pessoas do Mundo inteiro, mas o que muitos não sabem e descobrem somente ao chegar à região é que a dificuldade de conexão será um companheiro diário durante a estadia.

Simplesmente não tem conexão de celular. As pessoas chegam lá e é o maior problema, sem falar questões de emergências médicas e combate a incêndios

“Simplesmente não tem conexão de celular. As pessoas chegam lá e é o maior problema, sem falar questões de emergências médicas e combate a incêndios”, conta o fotografo Izan Petterle, de 64 anos.

Protagonista de uma série documental veiculada em novembro de 2021, em que parte da obra foi gravada no Pantanal, Izan sentiu na pele as dificuldades de uma conexão precária.

“Se você visse os problemas que nós tivemos para poder tocar a produção… Várias equipes de reportagem: Folha de São Paulo, BBC, National Geographic e The New York Times vão fazer matéria naquela região e não têm acesso à internet e nem acesso de celular. É inaceitável!”.

O fotógrafo compara a situação em Porto Jofre com algo que vivenciou em 2017 e 2018 em lugares remotos do Peru. “No alto da cordilheira, em aldeias indígenas eles tinham sinal 4G, sinal de telefonia. Eu ia fotografando e postando minhas fotos”, disse.

Na região do Pixaim existe apenas uma torre de telefonia, localizada a cerca de 60 quilômetros do Município. Ela é absolutamente incapaz de atender a necessidade de toda a população.

Na tentativa de oferecer algum tipo de conexão aos clientes, donos de pousadas instalam torres dentro de suas propriedades, e amenizam, em parte, o isolamento.

O empresário Daniel da Costa Moura, de 50 anos, proprietário da Pousada Berço Pantaneiro, lida diariamente com os transtornos e prejuízos causados pela falta de conexão.

Ele chega a desembolsar cerca de R$ 600 por uma franquia de 25 Mega – velocidade da internet -, que funciona entre a meia noite e 9h, porque se contratada em tempo integral o valor seria para lá de exorbitante.

“Tem dia que nem mensagem escrita a gente consegue enviar aqui. A gente sofre demais com isso, perde negócios”, desabafou.

Izan Petterle

Proto Jofre é referência no turismo de observação, em especial das onças pintadas

Daniel se surpreende com a situação, uma vez que a região é uma das mais visitadas do País. “Pra mim a terceira do Brasil, só perde pra Foz do Iguaçu e o Rio de Janeiro na alta temporada. No Porto Jofre tem estrangeiros do Mundo inteiro”.

Para o turismólogo Elias Silva, de 35 anos, a região perde uma publicidade gratuita e extremamente eficiente com a falta de conexão. “Os turistas vão tirar fotos e querer postar. É uma das formas mais rápidas e eficientes, além de gratuita de promover o turismo”.

O Guia de turístico Júlio André Monteiro, de 54 anos, pensa diferente. E diz não sentir, por parte dos clientes, a falta dessa conexão em tempo integral. “A maioria fala: ‘Eu quero esquecer do mundo’, e pedem só o wifi para poder falar com a família, mas eles não fazem muita questão, não”, explica.

Para Júlio, que também é proprietário de uma agência de turismo, o maior problema é quando não consegue se comunicar com os clientes que o contratam, e consequentemente acabam fechando negócios com outras empresas.

Na região desde 1989, o guia garante que se comparado a quando iniciou no ramo, hoje o Pantanal é um “paraíso” em termos de comunicação, apesar dos pontos cegos – sem sinal de internet e telefone.

Júlio é adepto dos rádios amadores de VHF como forma de se comunicar com as pousadas em situações de emergência, que segundo ele são raras.

“Hoje por causa do rádio você não está totalmente incomunicável. E mesmo com as dificuldades eu digo que hoje está excelente, comparado com anos atrás”.

Situações de emergência e o impacto da falta de comunicação

Diante da falta de conectividade em Porto Jofre e em toda a Transpantaneira, o impacto nos serviços de urgência e emergência é amplamente sentido.

O major do Corpo de Bombeiros Emerson Henrique dos Anjos Acendin atuou diretamente no combate aos incêndios na região em 2020. Ele relatou como é a dinâmica de atuação da equipe frente à peculiar situação na região e o seu impacto.

Tem dia que nem mensagem escrita a gente consegue enviar aqui. A gente sofre demais com isso, perde negócios

“Para os serviços de segurança pública do Corpo de Bombeiros, no combate aos incêndios florestais ou qualquer outra atividade das nossas atribuições, é primordial a comunicação para o sucesso dessas operações”, explica.

Segundo o militar, como a comunicação via celular não é eficiente, as informações cheguem à equipe com bastante atraso.

Na tentativa de minimizar esse impacto, o Corpo de Bombeiros utiliza equipamentos próprios, como a instalação de repetidores VHF. “A gente não pode contar única e exclusivamente com comunicações via telefone”.

Lançando mão de rádios HPS portáteis e os da viatura, as equipes não ficam sem comunicação entre si.

Outra medida adotada são os pontos de comando em locais estratégicos, onde há alcance de telefonia. Dessa forma o militar consegue acionar a central, que geralmente fica em Cuiabá, e retransmite as informações por meio de rádios para as equipes que estão em campo, tornando a ação mais eficiente.

Além dos equipamentos próprios, o Corpo de Bombeiros utiliza repetidoras VHF de fazendas e pousadas e também a estrutura da Defesa Civil

“A comunicação via rádio é muito usada nesses serviços de emergência, principalmente no militar”.

Uma luz bem lá no final do túnel

De acordo com o secretário de Turismo Municipal, Manoel Pereira Leite, já foi realizado um levantamento para averiguar a demanda da região em termos de conexão.

O documento teria sido encaminhado para as empresas de telefonia Vivo, Oi e Tim, para a realização de um orçamento.

Nenhuma das empresas, no entanto, segundo o secretário, deu retorno com as propostas. O prazo para a apresentação do orçamento venceu no mês de janeiro.

“Infelizmente estamos fora do normal, isso já era para ter sido instalado há tempos. Fizemos o levantamento sobre a necessidade e agora estamos aguardando”, afirma.

Como não houve a seleção da empresa a instalar as torres ainda não a um prazo para concretização do projeto, que será um convênio com o Governo do Estado, Prefeitura e a concessionária selecionada.

Segundo o secretário São 17 pousadas ao longo de toda a Transpantaneira, sendo 7 delas somente em Porto Jofre.

fonte:midianews

 

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