5 de dezembro de 2024

Poliamor a Evolução dos Relacionamentos

Poliamor é como Swing?
Não. O foco do swing é o sexo, mesmo que ligações mais profundas possam emergir entre os parceiros. O poliamor não é polisexo, e parte do princípio da possibilidade de envolvimento afetivo. No swing este envolvimento afetivo pode até estar proibido pelas regras das relações. Além disso, o swing, por ser uma troca de casais, parte do pressuposto de já existem previamente casais já constituídos. No poliamor, não necessariamente.

Poliamor é ter uma outra pessoa, além do seu casamento?
Não. Isso pode acontecer de forma escondida em relações monogâmicas, o que pode configurar como traição, ou em casais que vivam um RA (relacionamento aberto). Em ambos os casos, o centro da questão é o casal, e então existe uma outra pessoa. No poliamor, frequentemente não costuma haver o conceito de “a outra pessoa”.

Posso ter vivido um poliamor, mesmo que o(a)s parceira(o)s não soubesse(m)?
Se eles(as) não estavam sabendo, isso provavelmente tem o nome de traição. No poliamor, a premissa básica é que os envolvidos saibam e consintam com o que está acontecendo. Sem contar que “viver UM poliamor” já parece ser uma expressão bem paradoxal.

Ah, então é só um jeito educado de dizer que você deixa a traição acontecer?
Se todos os envolvidos estão de acordo com o que pode acontecer, não é traição.

Poliamor é para quem não quer compromisso?
Isso pode ter vários nomes… solteirice, amizade colorida, mas não poliamor. O poliamor não se caracteriza pela ausência de compromissos, mas pela presença deles de forma plural. Claro que uma pessoa poliamor pode ter amizades coloridas, nada disso se exclui. Mas no poliamor a pessoa está aberta a multiplicar seus compromissos, e não a eliminá-los.

Mas se você ama alguém, não deveria ter mais ninguém…
Primeiro, vamos trocar o “ter” por “estar com”. Ninguém é posse nem propriedade. Segundo, esta regra de ter apenas uma vaga para se relacionar, se aplicada a outras esferas da afetividade além da romântica e sexual, passa a soar tão absurda que nem acharíamos ser possível. Você acharia possível ter apenas um amigo? Ter por regra apenas um filho? Ou apenas um de seus pais? … O amor não gasta. Ao contrário, quanto mais damos, mais ele cresce também em nós mesmos.

Uma pessoa não é o suficiente? Se ele(a) está comigo, por que sentiria vontade de estar com mais alguém?
Há pessoas que sentem esta vontade, e há pessoas que não sentem. Há pessoas que preferem estar apenas com uma pessoa, e isso as tranquiliza emocionalmente. E há pessoas que não concordam em ser o único alicerce emocional de alguém. As vontades e os anseios das pessoas não seguem um único padrão. Mas isso são vontades e escolhas que devem partir da própria pessoa. Acreditamos que ninguém deva exigir isso como regra.

Então você é poliamor. Isso quer dizer que você fica com todo mundo. Vamos para a minha casa?
Não. A pessoa poliamorista não fica necessariamente com todo mundo, o tempo todo, ou em qualquer lugar. Fica na verdade é com quem quiser, na hora em que quiser, no local e momento em que quiser, se a outra pessoa também quiser e se os acordos que tiver firmado dentro das relações já existentes permitirem que tudo isso aconteça. Ser poliamorista não me dá a obrigação de ficar com você, só porque você quer.

Então vocês se relacionam assim, sem qualquer regra?
Pelo contrário. Assim como na questão dos compromissos, as regras também acabam se multiplicando, pois cada relação terá as suas particularidades, cada pessoa é diferente e isso irá se refletir nos acordos que forem firmados. Lembrando que assumimos aqui a palavra “regra” não como algo imposto por uma das partes da relação, mas como resultado de acordos convencionados em conjunto. Mesmo para os poliamoristas que preferem que “a nossa relação não terá acordos”, isso já pode ser considerado uma regra que fora acordada. No mínimo, é comum existirem acordos que versam sobre condutas dos indivíduos em relação ao sexo seguro e à prevenção de DSTs, uma vez que o envolvimento afetivo/emocional/romântico costuma (mas não é regra, necessariamente), vir acompanhado de algum envolvimento sexual.

Mas esse negócio de Amor Livre não ficou lá nos anos 60 e 70?
Poliamor não é amor livre. Mesmo o que chamam de amor livre desta época está mais ligado na verdade à revolução sexual e a algo que poderíamos melhor chamar de sexo livre. Vale lembrar novamente, que o poliamor pressupõe o firmamento de acordos, o que contraria um pouco a idéia de “tudo livre”. Pode ser que alguns acordos poliamorosos contemplem esta liberdade sexual de seus parceiros, mas não é este recorte apenas que irá definir toda riqueza de vivências que podem ser encontradas no poliamor.

Poliamor é igual poligamia?
Poligamia se refere a casamento, a contrair matrimônio, com mais de uma pessoa, simultaneamente. Há casos de poligamia onde todos consentem e há casos de poligamia em que os(as) cônjuges nem sequer sabem que o outro existe. Além disso, a é comum que a poligamia esteja ligada a conceitos de fundamentação religiosa, e muito comumente ligada a hierarquização de pessoas da relação. O mais comum é o patriarca de uma família ter o poder absoluto de voz sobre as suas esposas (e isso encontrar validações na religião que seguem). Isso entraria na esfera das relações cujo funcionamento se baseia em regras impostas, e não acordadas. Assim, mesmo estando debaixo do grande guarda-chuva da não-monogamia, poligamia e poliamor são coisas completamente diferentes.

Quem decide quem dorme com quem?
Depende da natureza das relações, e dos acordos firmados entre as pessoas envolvidas. Não há uma única regra que se aplique a todas as relações poliamorosas.

E se alguém sentir ciúme, como faz pra lidar com isso?
Ao assumirmos que o ciúme é o resultado de uma insegurança, e que esta insegurança pode estar atrelada às relações, às pessoas, e aos eventos que acontecem ao seu redor,  então é possível que isso não ser apenas um problema individual (que a pessoa tenha que lidar sozinha com o que está sentindo), mas da rede à qual ela faz parte. Nem todas as relações têm acordos assim, mas é comum a visão de que o que acontece com uma das pessoas, pode afetar a todos, mesmo que não se relacionem todos entre si. É necessário avaliar as causas deste ciúme para então descobrir como lidar com ele (contando inclusive com o apoio emocional de pessoas que façam parte sua rede íntima).

Interessante essa liberdade. Então o que o outro faz quando não está comigo, simplesmente não é problema meu?
Mais ou menos. Todos temos nossa liberdade e nossas possibilidades de vivenciar nossos amores (novos inclusive). Por outro lado, o que cada um faz estando com qualquer pessoa, pode afetar a toda a rede íntima da qual a pessoa faz parte, especialmente se não forem cumpridos os procedimentos básicos a respeito de sexo seguro e prevenção de DSTs. Isso também é válido para o caso de uma das pessoas da rede iniciar uma relação com alguém que esteja traindo alguém (com alguém monogâmico, por exemplo). Se assumimos que no poliamor todos têm o conhecimento e o consentimento das relações, então se alguém da rede investir numa relação que envolve o não conhecimento por parte de quem que está sendo traído(a), isso pode afetar eticamente a todos os integrantes da rede de relações.

Vocês falam bastante sobre consentimento. Isso quer dizer que precisam autorizar que as relações do outro aconteçam? Você pode vetar uma relação de seu(a) parceiro(a)?
Há acordos e acordos dentro do poliamor. Algumas relações assumem que os integrantes terão poder de veto (a maioria). A maioria entende que “eu sei que você pode se envolver com outras pessoas, e estou OK com isso” já é consentimento suficiente para todos. Na maioria das vezes não é preciso uma permissão do(a) parceiro(a) já existente para que uma nova relação aconteça. Consentir aqui tem mais o significado de concordar. “Eu sei que você está saindo com mais alguém, e estou concordando com isso. Não precisa da minha permissão ou autorização (a menos que tenhamos um acordo que diga que isso é necessário)”, mas isso acontece apenas na pequena minoria dos casos.

E se vocês tiverem filhos? Isso não vai deixá-los confusos?
Você quer saber se eles ficarão confusos ao conhecerem mais formas de se relacionar (além da monogamia), sendo uma delas a que prega a ausência de mentiras, de traições, enganações, etc? Vamos fazer esta pergunta de forma diferente: Você acha que os filhos ficariam confusos ao conhecerem apenas uma das formas de se relacionar, em que mesmo pregando a não traição, ela acaba acontecendo em larga escala? A resposta é: as diferentes formas de relações afetivas existem e fazem parte da realidade ao nosso redor. Quanto menos conhecerem sobre delas, mais confusos nossos filhos podem ficar.

Poliamor, no inglês Polyamory, mistura um radical grego “poli” e um latim “amor”. Isso não é etimologicamente errado?
Bom, se fôssemos considerar essa mistura como errada, não teríamos palavras como “auto/móvel”, “claustro/fobia”, “dis/função”, “geno/cídio”, “homo/sexual”, “hetero/sexual”, “hiper/ativo”, “socio/logia”, “tele/visão”, etc, etc etc… Misturar grego e latim é mais comum do que parece.

Como é que eu sei se eu sou poli?
Você acredita que é possível se relacionar emocional/afetivo/romanticamente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Você acredita que estas relações devem acontecer com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos, sem mentiras ou traições? Se você respondeu “sim” duas vezes, parabéns, você é poli. Bem vindo(a).

Eu acredito em tudo isso mas nunca pratiquei um poliamor de fato. Então o que eu sou?
Primeiro, você não precisa estar engajado em relações múltiplas para se dizer poli. Acreditar numa possibilidade já é praticar. Poliamoristas não são poliamoristas apenas quando estão com alguém(ns). Assim como uma pessoa vegetariana não é vegetariana apenas na hora da refeição. É uma questão de se identificar com as idéias e com a postura deste estilo de vida, que pode ter inúmeras facetas e configurações. Você pode ser poli, mesmo não estando em relação nenhuma no momento.

Tudo é um pouco diferente do que eu escuto sobre poliamor. As pessoas estão erradas?
Quanto mais se fala sobre poliamor (na internet, na TV, na mídia impressa, etc), mais pessoas se aproximam do tema. E as pessoas chegam trazendo suas histórias de vida e carregam consigo os mais diversos referenciais e conceitos que elas foram construindo ao longo de sua vida. Em outras palavras, quanto mais pessoas, maior a riqueza de visões e interpretações sobre o poliamor. Dito isso, como muitas pessoas ainda associam o poliamor com swing, orgia, relações sem compromisso, etc., é comum encontrar nos canais poli (grupos do facebook, por exemplo), uma grande quantidade de pessoas com visões deturpadas e equivocadas das mais diversas formas sobre poliamor. Temos esperança de que este nosso site seja um canal de informação que ajude a melhorar isso. Se você conhece alguém que esteja em grupos das redes sociais, e acha que a pessoa precisa de mais informações sobre o tema, ou está com alguma idéia equivocada sobre o que é esse universo poliamoroso, pode indicar este site.

Gostei. Onde eu encontro pessoas poli?
Há vários canais para encontrar pessoas com afinidades de pensamento e a internet apresenta uma grande variedade de canais assim.  Alguns dating sites (a maioria em inglês) apresentam o filtro de busca por pessoas não-monogâmicas. É uma forma de encontrar e trocar idéias com pessoas que talvez sejam poliamoristas. Em algumas cidades do Brasil, são realizados encontros de pessoas poli, onde é possível discutir, perguntar e aprender bastante sobre poliamor.

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